A tendência de verticalização nas grandes cidades do Brasil e do mundo é um caminho sem volta. Construir prédios se tornou a solução para o aumento da população e o bem-vindo adensamento urbano. As moradias na forma de prédio são também necessárias para repovoar as regiões centrais, hoje tomadas por estabelecimentos comerciais que vivem o dilema de ser ou não ser lojas físicas. A internet ronda e dá sinais de que vencerá a batalha em tempo exíguo.
É no contexto dos grandes centros urbanos que cresce também a quantidade de condomínios. Números recentes da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) mostram que, em uma década, a quantidade de apartamentos construídos no país aumentou de 6,1 milhões para 10,4 milhões – um salto porcentual de 68,7%. Na pesquisa, os condomínios horizontais não foram contabilizados porque se misturam aos indicadores de casas, que representam a maioria dos domicílios no país (85,6%).
É possível, no entanto, constatar que o aumento de edifícios condominiais quase dobrou em três décadas – de 8,37% para 14,2% dos domicílios no país. Isso em um universo de
72,4 milhões de moradias. Se mirarmos apenas na população dos condomínios verticais, ela é estimada em 68 milhões de pessoas, segundo levantamento da Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais (ABRASSP). É quase 1/3 da população brasileira, de cerca de 214 milhões, e o equivalente ao número de habitantes de gigantes da Europa como França e Reino Unido, vistos separadamente.
Verticalização
A verticalização é uma característica mundial, mas diz muito também sobre a segurança proporcionada pelos condomínios, afora o algo mais que atende pelos nomes de conforto, praticidade e lazer. Hoje, até mesmo condomínios de médio porte oferecem academias, praças de esporte, piscinas, salões de estética e praças de alimentação em suas dependências.
Verticalizar é preciso – e os condomínios atendem a essa necessidade – porque é possível pensar que o adensamento populacional pode melhorar “o uso da infraestrutura já existente, além de aproximar as residências dos locais de trabalho, reduzindo o trânsito, diminuindo o deslocamento e melhorando a qualidade de vida das pessoas”, afirma o cientista social Guilherme Minarelli, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), localizado em São Paulo.
“Historicamente, a cidade é o espaço do encontro de pessoas”, prossegue Minarelli. “Com planejamento é possível que a verticalização seja positiva”, e os condomínios residenciais possam contribuir decisivamente para isso. Afinal, quando se fala em moradias verticais estamos falando também da revitalização das cidades, do estímulo ao comércio e da reintrodução de locais de lazer – como os cinemas, bares, restaurantes e teatros – no entorno dos edifícios.
Um estudo do CEM revela que a cidade de São Paulo hoje tem mais prédios do que casas. Os dados, aliás, mostram que a capital é um fenômeno. Em 2020, o número de arranha-céus em São Paulo ultrapassou 45 mil. Mais do que Tóquio, Seul e Moscou, com 30 mil, 16,7 mil e 12 mil edifícios construídos respectivamente.
No caso de São Paulo, a explicação está no investimento na construção de edifícios em um período de 20 anos. Ao passo que a edificação de casas praticamente ficou estagnada – aumentou de 1,23 milhão para 1,37 milhão de unidades nesse período –, a de apartamentos dobrou: de 767 mil para 1,38 milhão.
R$ 165 bi por ano
Com número tão expressivo de condomínios concentrados não só em São Paulo, mas também no Brasil, os edifícios residenciais movimentam cerca de R$ 165 bilhões por ano, segundo dados da ABRASSP. E geram empregos. Há 450 mil síndicos no país e a demanda por zeladores, fornecedores e empresas que atuam no ramo de serviços domésticos só faz aumentar. No caso dos síndicos profissionais, correspondente a 21.868 do total, eles se concentram, em sua maioria no estado de São Paulo (7.758). Na sequência aparecem Rio de Janeiro (2.805), Santa Catarina (1.962), Minas Gerais (1.387) e Rio Grande do Sul (1.027).
O número de síndicos profissionalizados, embora ainda modesto, indica que há uma demanda crescente por gestores preparados para administrar e intermediar interesses e necessidades dos condôminos. Mediar conflitos, atender a diferentes necessidades, fiscalizar serviços, promover consertos ou reformas nos espaços comuns são tarefas que fazem parte do check-list de qualquer síndico. Mas há mais, muito mais. Às vezes o síndico precisa ser psicólogo, às vezes apaziguador, às vezes conciliador, às vezes durão, sujeito a chuvas e a trovoadas.
Por
Marcus Gomes – É fato.
Fonte: www.muraldoparana.